A representação do sofrimento de Cristo na Cruz é assumida neste programa por três compositores temporalmente distantes entre si: Haydn, Brahms e Martin. Por um lado Haydn, o pai da sinfonia, utiliza a força da tonalidade, Fá menor, como elemento crucial para uma viagem emocional que extravasa todos os limites (1768). Já no final da sua vida, Brahms utiliza nove versos luteranos para, através do órgão, expressar toda a carga expressiva e religiosa das palavras na sua música (1896). Por último, das palavras às imagens, Martin abre uma via privilegiada de comunicação com o seu mundo religioso e espiritual, encarnando a voz de Cristo num instrumento solista, o violino, tendo como inspiração seis painéis que retratam a Paixão de Cristo (1973).
Parece-nos que estes três diferentes caminhos, estas três diferentes viagens, desembocam no mesmo lugar: expressar, vivenciar, reproduzir o estado d’alma deste momento tão importante espiritualmente. Porém, de realçar também, que o ponto de partida tem um nome em comum, J.S. Bach; cada um dos três compositores contém em si uma espécie de reflexo inspirador deste compositor, tão importante para a história da música ocidental.
Este concerto é sem dúvida um momento introspetivo, de vivência espiritual interna. – Pedro Neves
