
FESTIVAL CUMPLICIDADES – FEEDBACK
FESTIVAL CUMPLICIDADES – FEEDBACK – CCB
André Braga e Cláudia Figueiredo
Festival Cumplicidades | Feedback
Um monte de pedras, uma máquina de fumo e um microfone. O som. O sopro. Uma confissão.
«O que pode um corpo?» Que corpo é este que vimos perseguindo? Que corpo manifesto vimos tentando enunciar?
A procura de uma razão sensível, de um corpo pensante, de outras formas de lucidez que assentam em novos equilíbrios entre a dimensão sensorial e racional são linhas de trabalho que queremos aprofundar. Andamos à procura de novas gramáticas de sensibilidade, da «inteligência selvagem dos corpos», do corpo chão da terra que reflete memórias ancestrais e desconhecidas.
«O corpo tem geometria e formas que ninguém ouve», e é em êxtase que descobrimos uma efervescência seca, ruídos de pedra a fender-se, vestígios de plantas iluminadas, de bocejos de animais…
«Pelo ventre é que o silêncio tem de começar».
Em Feedback, o som captado e manipulado ao vivo é a pista eleita para investigar com novo detalhe.
Elemento invisível que promove a baralhação entre o dentro e o fora, desenha espaços com nada e mexe-nos por dentro até às entranhas, é incrível a variação dos lugares que se conseguem visitar com um microfone.
Em Feedback procuramos o ponto de encontro entre a memória confessional e os tópicos de um quadro de ideias-chave que vimos tentando mapear. O ar, a escuta, o ampliar de microperceções, o dilatar do tempo, a reversão da pele, a evocação de um tempo primitivo, a tensão entre o ancestral e a tecnologia. A crueza, a verdade, tudo despido ao essencial: o corpo, a origem do som, a técnica, a matéria.
Sei às vezes que o corpo é uma severa
massa oca, com dois orifícios
nos extremos:
a boca, e aos pés a dança com a coroa de labaredas
– a cratera de uma estrela.
E que me atravessa um protoplasma
primitivo
uma electricidade do universo
uma força.
E por esse canal calcinado sai
um ruído rítmico, uma fremente
desarrumação do ar, o verbo sibilante,
vento:
o som onde começa tudo – o som.
Herberto Helder, Completamente Vivo
Espetáculo inserido na programação do Festival Cumplicidades.
Ficha artística
Direção artística André Braga e Cláudia Figueiredo
Interpretação André Braga
Som ao vivo João Sarnadas
Desenho de luz Cárin Geada
Direção de produção Ana Carvalhosa
Produção Cláudia Santos
Coordenação técnica Pedro Coutinho
Fotografia Miguel Fernandes, Daniel Pina, Cláudia Santos e Pedro Sardinha
Agradecimentos Vera Mantero, Alejandro Ahmed, Inês Castanheira, Daniela Cruz
Texto composição livre a partir de excertos de Herberto Helder, Rui Nunes, Marguerite Yourcenar, Davi Kopenawa, Walter Benjamin, Francis Ponge, Antonin Artaud
Coprodução CRL – Central Elétrica, Teatro Municipal do Porto / DDD – Festival Dias da Dança, Teatro das Figuras, Teatro Académico Gil Vicente
Residências de criação Mindelact (Cabo Verde), 23 Milhas – Fábrica das Ideias
A Circolando / CRL – Central Elétrica é uma estrutura subsidiada por Ministério da Cultura / Direção-Geral das Artes
Outros apoios Município do Porto e IEFP / Cace Cultural do Porto
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