VALENTINA MAGALETTI + JOSÉ VALE
VALENTINA MAGALETTI + JOSÉ VALE
Baterista, percussionista e compositora em franca actividade nos últimos anos, Valentina Magaletti gere uma (aparentemente) inesgotável fonte de recursos com uma determinação e visão pouco vistas. Da força das peles e metais da bateria à delicadeza da cerâmica, da harmonia da marimba ao lixo do quotidiano, dos microfones de contacto a toda uma miríade de madeiras, há na extensa, mas mesmo extensa obra de Magaletti todo um arsenal de formas e soluções que tanto podem passar por estratégias near-silence, como pelo pulso motorik, polirritmias sem tempo nem lugar ou digressões texturais que tanto lhe dão um cunho vincado quanto o põe em causa logo a seguir. Espírito de descoberta, sempre do lado certo da barricada. Dessa vontade, nasce toda uma expansiva rede de projectos e colaborações. Mais do que aqueles que podemos aqui referenciar, mas onde se incluem as polirritmias hipnóticas do duo CZN ao lado de João Pais Filipe, a fragmentação post-punk de Moin – ao lado de Raime -, a pop psicadélica de Vanishing Twin e colaborações com gente tão estimável e díspar quanto Jandek, Kamasi Washington, Mica Levi, Thurston Moore ou Nicolas Jaar. Foi até parte do The Can Project apresentado no Barbican em 2017, no lugar – insubstituível, diga-se – de Jaki Liebezeit. Ainda assim, honra suprema. No ano transacto, deixou para a posteridade dois tratados a solo, e é nesse mesmo estado que regressa ao Aquário. Trabalho de pesquisa ao qual não é estranho um certo romance, ‘Batterie Fragile’ leva a artista a explorar o timbre, a textura e possíveis fontes sonoras de um kit de bateria de cerâmica criado por Yves Chaudouët, recorrendo a vassouras, palhetas de madeira e pedaços mais ou menos difíceis de identificar. Já ‘A Queer Anthology of Drums’, lançado em LP pela chinesa bié após versão digital na Takuroku do Café OTO é, como manifestado no título, uma reflexão sobre a sua própria existência, numa colagem expressiva e muito directa e crua de passagens ritualísticas de percussão, gravações campo, acordes tensos de piano e momentos de harmonia espiritual conjurados por Magaletti com toda uma honestidade e encanto inatacáveis. Rainha, claro. BS
ABERTURA DE PORTAS
21h00
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