
“O passar do tempo” Com hans Donner, Marcus Cederberg e Alexandre Caldas
Sentamo-nos à mesa de trabalho diante as nossas inquietações particulares a refletir sobre o tempo, conquistas, perdas e perspetivas. Temos gravado na nossa memória tudo aquilo que o passado carrega no inconsciente, as imagens e toda a informação cultural que adquirimos da história do mundo, os ícones e as referências da própria evolução. No entanto, o tempo continua a passar, o mundo gira a uma velocidade maior do que o relógio pode marcar e seguimos ali sentados, à procura de novas ideias e tantas respostas. Olhamos em frente e vemos o futuro a abrir inúmeras possibilidades, mas escolhas são individuais. Com o relógio a girar em torno de nós mesmos, caímos na própria ilusão de controlo daquilo que temos de mais precioso, mas que se vai a cada segundo vivido: o nosso próprio tempo de vida.
E agora, a Luka Art Gallery, sob curadoria de Ana Carolina Azevedo, abre novamente os históricos salões do Palácio Biester para uma exposição multicultural entre 5 países envolvidos que nos trazem o puro design e conceito. O designer português Alexandre Caldas convida-nos a sentar na cadeira que se encontra atualmente no gabinete da Presidência da República de Portugal, junto à secretária usada pelos ministros para a assinatura do Tratado Social Europeu. As peças surgem ao centro do espaço como elemento questionador e instigador à reflexão, além do candeeiro, que nos ascende a imaginação e a criatividade. Hans Donner, o mundialmente reconhecido e chamado o mestre do design, nascido na Alemanha, criado na Áustria e residente há 48 anos no Brasil, apresenta-nos de forma inusitada, em arte digital para tapeçaria, as obras de grandes mestres da pintura, desde Michelangelo à Vasarely. A contagem do tempo é representada de maneira pixelada, como se os incontáveis relógios estivessem a cronometrar, a cada instante, uma história diferente, mas que juntas formam uma consagrada obra de arte, exprimindo aquilo que Dali já sabia ao pintar relógios a derreter: o tempo está a acabar! Mas o cenário que se propõe é o tempo futuro, o olhar adiante dos nossos planos e projetos, tudo aquilo que ainda há por criar e descobrir. E esta melhor fotografia, num convite ao pensamento calmo e minimalista, questiona-nos e desafia o fotógrafo sueco Marcus Cederberg na sua principal iconografia profissional, tão referencial aos novos tempos em que vivemos: as janelas a abrir-nos a mente para as incríveis e inspiradoras perspetivas do amanhã.
Ana Carolina Azevedo – curadora