MARIA BC – GALERIA ZÉ DOS BOIS
Maria BC Em 2021 surpreendeu com “Devil’s Rain”. EP de estreia com cinco canções que criavam uma ligação interessante entre Cocteau Twins e a Grouper dos primeiros discos. Não é que não se tenha pensado nisso antes, noutros momentos da última década e meia, mas a calma esparsa de canções como “Adelaide” ou o tema homónimo suscitavam sensações diferentes, novas. O álbum de estreia não tardou, e “Hyaline” (2022) confirmou suspeitas. Só que também patenteou algo mais, Maria BC, natural do Ohio, com formação clássica, agarrava com unhas e dentes a euforia da contenção dos Talk Talk de “Spirit Of Eden”. Falta-lhe a experiência, verdade, ouve-se na voz algo de Mark Hollis, que se sobrepõe aquela boa falta de clareza dos Cocteau Twins. Mas compensa a inexperiência com astúcia e frieza para adequar a formação clássica à pop experimental. Os elementos Grouper, por assim dizer, ainda ficaram por lá. Se antes, no EP, existiam sugestões de dream pop, “Hyaline” desvirtuou e bem a coisa para caminhos mais ligados ao pós-rock: guitarras matemáticas, suspensas numa qualquer ideia do que irá acontecer. E aí habita o fantasma de Hollis, há qualquer coisa na voz de Maria BC que tanto perturba como encanta, um eco de algo que parece que não existiu. O espaço entre as palavras, a forma como controla o tempo e desvenda a sua candência faz pensar com frequência em “I Believe In You”. Reverteu a engenharia desse momento apoteótico dos Talk Talk e estudou-o ao longo de todo um álbum. O tempo dirá para onde puxa esta ideia de som. Por enquanto, gosta-se da ideia de “euforia de contenção” em jeito de pré-aviso de uma reanimação por acontecer. Não é que a dream pop alguma vez tenha saído de cena, mas nestes termos é algo refrescante. AS
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