Lisbon-Kabul: Music itineraries of wonder
Fundado em 2008, o Afghanistan National Institute of Music (ANIMP) tem-se notabilizado por um trabalho contínuo na salvaguarda e transmissão do património musical afegão, bem como na promoção da igualdade de género, de que se destaca a orquestra Zohra, composta por 35 mulheres.
Quando, a 15 de agosto de 2021, se deu a queda de Cabul, a música foi proibida pelo regime Talibã. Coube a Portugal acolher 273 refugiados, dentre os quais alunos e professores do ANIMP. Este ato, de uma relevância transcendente, que não acolheu a devida atenção da sociedade civil portuguesa, permitiu salvar não apenas vidas humanas (especialmente de jovens raparigas) mas também de uma tradição musical ameaçada.
A identidade cultural de um povo assenta, entre outros matizes, na forma como se expressa musicalmente. Ainda que marcada pela proximidade com a Índia, e as suas seculares tradições musicais, a música afegã soube desenvolver um idioma próprio, fulgurante nas matizes diferenciais, que despertou a atenção de muitos além-fronteiras.
Acresce que o impacto junto das gerações mais novas afegãs foi decisivo para agilizar um diálogo intergeracional e para a integração da mulher numa sociedade profundamente opressiva e tradicionalmente patriarcal. Nesta interseção entre tradições musicais, entre idiomas diferentes, nasce um diálogo intercultural, um itinerário que partindo da música enquanto linguagem comum a todos os povose, desemboca na maravilha deste encontro a várias mãos. Por entre o tanger de rubabs, domburas e ghijaks (instrumentos de corda afegão) escutaremos duas obras em estreia: um fado de Miguel Amaral (n. 1982), jovem solista da guitarra portuguesa e uma canção de Nuno Côrte-Ral (n.1971), escrita aos 19 anos, num “momento de trovador punk“, segundo palavras do próprio.
Voz: Marco Oliveira
Guitarra portuguesa: Miguel Amaral
Direção musical e apresentação: Nuno Côrte-Real
Ensemble Darcos
ANIMP – Instituto Nacional de Música do Afeganistão
Desenho de som: Suse Ribeiro
“Nesta nova edição da Temporada Darcos, propomo-nos seguir a linha que tem norteado as temporadas anteriores: grande música, grandes intérpretes, mas procurando sempre pontos de contacto entre diferentes tradições, privilegiando o ecletismo e a inclusão. Por isso, desta vez escolhemos o lema da união pela música. Num mundo ainda muito desunido, dividido pelas políticas, pelas religiões, pelas desigualdades e pelos abomináveis racismos, cabe à arte proclamar bem alto que o único futuro sustentável é o da união.A união pela paz, pelo amor, pelo planeta e pela liberdade. A união dos povos. Nós e os outros, duas realidades diferentes, mas na utopia que desejamos para o mundo as diferenças esbatem-se e convergem numa única realidade. É com esta convicção que a Temporada Darcos apresenta o seu projeto de fusão entre o fado e a música tradicional afegã, através da colaboração entre o Ensemble Darcos e o ANIMP (Afghan National Institute of Music), com o fadista Marco Oliveira e o guitarrista Miguel Amaral. Segundo o mentor e diretor do ANIMP, Dr. Ahmad Sarmast, dezenas de jovens estudantes afegãos fugiram ao terrível regime Talibã, viajando 6.592 quilóme-tros para poderem ter um futuro, e para que a música tradicional afegã pudesse sobreviver. Parece-nos triste e paradoxal que uma tradição milenar necessite do exílio para garantir a sua existência e preservação… Também sob a égide da união, e visando criar pontes culturais de índole humanista, o mais ambicioso projeto da Temporada Darcos, Europa Sinfónica, será finalmente retomado (em suspenso desde 2020 devido aos anos de pandemia), com a primeira visita a Portugal da Orquestra da Ópera Estatal da Hungria, um dos mais antigos e prestigiados agrupamentos musicais europeus, e com a Orquestra da Toscana, instituição capital daquela região italiana, com sede em Florença. Estes dois programas terão como solistas os aclamados artistas portugueses António Rosado e Eduarda Melo. O ano de 2023 verá ainda nascer o projeto Folias, terceiro livro da série para coro e instrumentos, Novíssimo Cancioneiro, de Nuno Côrte-Real, desta vez inteiramente dedicado às danças portuguesas, reper-tório rico e variado que é mister revitalizar com vista a uma maior presença artística no panorama contemporâneo.De destacar, por último, a estreia do projeto de fusão estética entre o jazz e o clássico, Nas asas do indefinido, com o Ensemble Darcos e a internacional cantora portuguesa Maria Mendes, procurando caminhos de fusão e desco-berta entre aqueles dois mundos distintos. Podíamos projetar neste último projeto musical, como exercício para as nossas próprias vidas, o caminho que a humanidade parece cada vez mais estar a necessitar: tomar o oposto, o contrário, o aparentemente inconciliável, e conciliá-los; entender as diferenças, aceitar as distinções, compreender as essências, e num desejo sincero de harmonia, conceber um horizonte onde a natureza varia do Homem possa existir pacificamente e sem mácula. Utopia, nunca te esqueceremos!” Nuno Côrte-Real“A cultura é o grande observatório do humano” José Tolentino Mendonça (2021)Na sua 16ª edição, a Temporada Darcos propõe um programa artístico que elege “A união pela música” como impulso e horizonte. Longe de constituir um cliché semanticamente esvaziado pela repetição, a afirmação prefigura um manifesto pelo direito a construir uma nova narrativa do futuro.A Temporada Darcos enraíza-se num movimento cultural agregador de matriz cosmopolita que promove o encontro entre “diversidades”, aprofundando o diálogo, a cooperação e a participação cidadã. Repousa na profunda convicção de que as Artes e a Cultura – conceito poliédrico – devem assumir um papel central e não ornamental no âmago de qualquer projeto de desenvolvimento territorial. Ao longo da sua trajetória, um sistema capilarizado de relações tem sido delicadamente tecido, dirimindo distâncias entre instituições, coletivos artísticos e comunidades.Na sua dimensão processual, a Temporada Darcos concorre para a edificação de uma ecologia de práticas colaborativas que, assentes na mutualização de experiências, conhecimentos e competências, aportam inovação e abrem caminho a diálogos fecundos materializados em projetos comuns.
Enquanto movimento fortemente comprometido com a educação, inequívoca alavanca de transformação, a Temporada Darcos tem contribuído para salvaguardar a acessibilidade a um patri-mónio artístico em permanente (re) criação e avigorar a literacia musical de uma “vasta maioria”.A música, na sua pluralidade de expressões, é um universal de cultura, uma linguagem de convergência que nos projeta num espaço identitário partilhado. Em tempos marcados pelo desencanto, incerteza, fragmentação, dissolução e insularidade, a música, mais do que uma experiência salvática, hiperbolicamente escapista, ou de estrita e efémera fruição estética, oferece a possibilidade de pensar novas formas de habitar o mundo, de ousar outras vidas em comum.” Ana UmbelinoDireção artística
Nuno Côrte-RealConsultoria
Afonso MirandaProjetos especiais
Vanessa Pires / ArtwayTextos
José Bruto da CostaProdução executiva
Bruna MoreiraAssistente de produção
João BarrinhaGestão de apoios
Jorge ReisRelações públicas e assessoria de imprensa
Débora PereiraContabilidade
Luís Silvestre
Imagem gráfica
Olga Moreira a partir de fotografias de Jorge Carmona
Comunicação e imagem
Câmara Municipal de Torres Vedras
Fonte: http://www.cm-tvedras.pt/agenda/detalhes/146921
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