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Fake Extreme Art making of #14 BBB Johannes Deimling

Fake Extreme Art / making of #14 BBB Johannes Deimling

BBB Johannes Deimling participa no ciclo (FEA) Fake Extreme Art, da Galeria Ana Lama, com a performance «The Dance Of The Receptors», uma ação que funciona, enquanto logística, como antítese das grandes máquinas de espetáculo, propondo uma simplicidade na aproximação ao público própria da plástica social inerente à estética da performance art.

— Espero não meter o pé na argola neste texto teórico.

As imagens poéticas criadas por Deimling proporcionam diálogos visuais e não-verbais. Estas imagens substituem as palavras, criando uma atmosfera e deixando muito espaço para a interpretação individual. A sua poética/imagética procura expandir a perceção, num processo de tempo e presença. Deimling recorre à técnica da colagem para criar uma linguagem visual que funciona em múltiplas camadas e que se relaciona com os tempos fraturados e distorcidos em que vivemos.

— Espero não pôr a foice em seara alheia, as performances de…

A performance «The Dance of the Receptors» que vamos apresentar faz parte de um ciclo de trabalho de performance ao vivo e para vídeo que o artista iniciou em 2021. O seu método de trabalho evoca uma pesquisa sobre recetores bioquímicos enquanto metáfora das transformações internas que estas práticas de investigação artística implicam. Nesta pesquisa, Deimling adota uma visão holística centrada nos gestos do quotidiano. Para o performer, as imagens puras geradas a partir das suas propostas de arte de ação podem espoletar a perceção, a atenção aguda. Há aqui um foco na cognição como um todo comum, um processo que se dá num espaço-tempo. A sua linguagem artística e poética combina o uso intencional de gestos, movimentos e materiais, e procura estimular a mente, de forma que estas imagens evoquem uma espécie de «dança dos recetores», na qual o que se comunica é complexo, exige uma compreensão não imediata e perdura como pergunta sensível.

Eis agora alguma linguagem técnica de atletismo de alta competição: Pronação, Neutra, Supinada, Drop do ténis, Canelite, Tempo do relógio, Tempo bruto, Tempo do chipe, Tempo líquido, Sprint final, Polimento, Carga de hidratos de carbono, Treino de ritmo, Streak running, Andamento, Pace, Negativar, Intervalos, Fartlek, Strides, Cadência, Coelho.

BBB Johannes Deimling é um artista visual alemão, natural de Andernach, que, além de abordar o campo da performance, trabalha também a videoarte, o desenho e o cinema. Deimling propõe-nos vivências que não são puramente retinianas — fala no visível e no não visível da imagem (acho que é isto). Já Marcel Duchamp tinha feito a crítica de uma arte puramente retiniana: «Relação que, segundo ele, desde Courbet (que afirmava a pintura realista), se tinha instalado como uma tendência na arte, diante de uma outra dimensão da experiência artística. Era para esta segunda que ele dirigia os seus esforços e exercícios artísticos. Tratava-se então de questionar, problematizar, experimentar e promover essa tal dimensão, fora de um âmbito estritamente retiniano.» (Virgínia Mota, The Duchamp Plan, AnaLógos, Rio de Janeiro, 2016).

BBB Johannes Deimling, enquanto professor, tem ensinado internacionalmente em várias faculdades de Belas-Artes e fundou o projeto de educação e estudos de performance-PAS.

De entre o seu vasto repertório de intervenções artísticas, fazemos referência a uma das suas propostas mais antigas, na qual BBB explora os limites do corpo — até ao esgotamento. Chama-se Wille e foi apresentada entre 2000 e 2004. Deimling está de pé, em cima de um plinto e segura uma bandeira branca enorme. Uma bandeira alta, com uma tela gigante, parece ser necessária uma força sobrenatural para lhe pegar. Em esforço, leva o corpo ao limite. Fica uma hora a brandir a bandeira, até que, de joelhos, não lhe restam mais forças e os braços e as pernas entram em espasmos. É nesse momento que deixa cair a bandeira e termina.

Tem também, de entre uma série de outras propostas mais recentes, um grupo de performances que desenvolveu a partir de desenhos com colagem (de 2020): Scores. Este grupo de performances é um exemplo plástico dos seus métodos de transferência de processos. Neste projeto, a performance e o desenho partilham um semelhante processo de pensamento. Utiliza lápis de cor, tinta acrílica branca e papel de embrulho castanho nos desenhos. Nesta série, a pesquisa começa no desenho e depois é trasladada para a performance. Aqui, Deimling constrói a performance no espaço como uma tradução do que está representado na folha de papel, e as cores, as formas e os elementos das colagens são substituídos por ações, gestos, movimentos, materiais (e os seus vestígios).

Há uma expressão portuguesa que é a seguinte: «Meter o pé na argola.» A expressão significa errar, enganar-se escandalosamente. Não sabemos muito bem de onde vem, mas talvez se possa definir, quem sabe, como alguém que tropeça numa argola que está no chão (uma argola que sirva para prender os cavalos, por exemplo) ou alguém que, sem querer, pisa uma armadilha para animais, feita de um arco metálico redondo.

— A ideia é não meter o pé argola agora, neste texto, visto este constituir o último texto de divulgação do ciclo de apresentações de performances deste mesmo ano…

— Se é para meter o pé na argola, que seja ao de leve; meter só ao de leve o pé na argola. Vamos agora contar uma parte da biografia do artista que pode ser bastante mais problemática.

BBB Johannes Deimling também tem conquistas assinaláveis na sua carreira, fora do mundo artístico. É inusitado, mas é sabido que foi capaz de inventar um treino para atletas de alta competição que participam nos Jogos Olímpicos, método este (de treino) que é pensado a partir da teoria das cores na pintura.

Estes atletas, no caso, de pentatlo moderno, remo, basquetebol, ténis de mesa, lançamento de peso e 400 metros livres — sem treino físico, só através desta preparação assente nos exercícios pensados a partir da teoria das cores —, foram capazes de ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos Tóquio, em 2020!

Normalmente, a etapa de preparação para as olimpíadas exige muito treino e condicionamento físico. Em média, são feitas entre dez e doze sessões de exercício físico que ocorrem nos sete dias de cada semana, ao longo de muitos meses. Neste caso, estes atletas não fizeram treino físico, mas antes algo parecido com práticas de arte, problematizando a cor.

Sabemos que os Jogos Olímpicos são um evento multidesportivo global, com modalidades de verão e de inverno, em que milhares de atletas participam em várias competições. O Movimento Olímpico recorre a símbolos para representar os ideais consagrados na «Carta Olímpica». O símbolo olímpico mais conhecido (os anéis olímpicos) é composto por cinco anéis entrelaçados, representando a união dos cinco continentes habitados.

Nas olimpíadas de Tóquio, vários atletas conquistaram medalhas sem terem realizado treinos físicos preparativos, fazendo só uma espécie de aulas de pintura dadas pelo performer BBB Johannes Deimling — coisa caricata e invulgar, mas que não é única na história dos Jogos Olímpicos. Por exemplo, os Jogos de Paris, de 1900, também não ficaram atrás em termos de estranheza.

Nesse ano, foi experimentado, como modalidade, o corte de pelo de cães poodle. Era um evento de teste. Envolveu 128 competidores e foi apresentado perante uma multidão de seis mil pessoas no Bois de Boulogne. A competição consistia no corte do pelo do maior número possível de poodles em duas horas. A vencedora foi Avril Lafoule, ganhando a medalha de ouro com um total de 17 poodles tosquiados.

— É cómico que a expressão meter o pé na argola, que é dita em referência a fazer algo mal feito, no caso dos Jogos Olímpicos se revele no sentido oposto, ou seja… — É difícil de explicar, mas meter os pés na argola olímpica, ou melhor, cometer a argolada de estar nos Jogos Olímpicos, isso é só para os melhores.

A versão colorida dos anéis dos Jogos Olímpicos é: azul, amarelo, preto, verde e vermelho — sobre um fundo branco. As cores foram escolhidas porque cada nação do continente condizente tinha pelo menos uma destas cores na sua bandeira nacional.

Neste ciclo de programação nómada, organizado pela Galeria Ana Lama, em parceria com várias instalações/plataformas artísticas da cidade de Lisboa, os diferentes espaços servem de paisagem e palco para as performances programadas, que são realizadas num formato diferente, como making ofs. Isto significa que as performances são realizadas simultaneamente para um público ao vivo no local e para a câmara, sendo as ações filmadas em tempo real. Desta vez, no Goethe-Institut, em Lisboa, será instalado um set de filmagem, pelo realizador Thomas Behrens, que irá explorar uma tecnologia pouco explorada para registar o acontecimento em 360º. O material captado em vídeo, depois de editado, fará parte do arquivo de videoperformances disponível on demand no site da Galeria.

 

Ana Lama, Ponta Delgada, 6/03/2023

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Entrada livre sujeita a reserva em [email protected] + Info: https://www.galeriaanalama.org/

Ficha Técnica: Performance:BBB Johannes Deimling Direção artística: Nuno Oliveira e Margarida Chambel Realização vídeo: Thomas B Apoio técnico e apoio à comunicação: Gabriel Marmelo e Roberto Álvarez Gregores Revisão de texto: Joaquim E. Oliveira Tradução: Maia Horta

Apoios: República Portuguesa – Cultura DGARTES; Câmara Municipal de Lisboa;Polo Cultural das Gaivotas; Goethe-Institut Portugal

Fake Extreme Art / making of #14 BBB Johannes Deimling

Date

18 Mar 2023
Desde

Time

19:00

Localização

Goethe-Institut Portugal
R. de Nossa Sra. de Fátima 107, 4050-427 Porto
Website
https://cartazculturallisboa.pt/agenda-goethe-institut-lisboa/

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