
Exposição “Saudade” de Roberto Vamos e Ânia Pais
Exposição “Saudade” com Roberto Vamos e Ânia Pais
Saudade é uma palavra tão singular e intensa do idioma português, que reflete o sentimento de ausência e nostalgia, e traduz as emoções da lembrança de alguém, de um lugar ou algum momento vivenciado. Nos faz reviver memórias, muitas vezes de forma melancólica e triste quando associadas à perdas, ou como expressão de alegria e amor pelas boas lembranças.
Entre fotografias em preto e branco de Roberto Vamos, a representação das mudanças de estação, a nos deixar a saudade de tudo que foi vivido até aqui. O sobreiro, tão importante árvore do ecossistema do montado português, ganha ênfase notória ao ser captado entre a bruma da manhã, na nostalgia de uma paisagem bucólica, dos séculos que a historia carrega. Estas imensas florestas que produzem a cortiça, elemento tão relevante para a economia deste país, são agora observadas por um prisma silencioso, como corpos vivos de identidades únicas e individuais, bailando ao som leve do vento nas folhas, no sabor de um vinho, de rolha recém sacada, a evidenciar seu ciclo natural.
A floresta agora toma outra forma, e salta da captura da fotografia para a composição de nosso imaginário, em milhares de linhas em preto e branco do trabalho performativo da artista Ania Pais, onde a experiência da paisagem é a fonte de inspiração e nos faz imergir e envolver a estes sobreiros no espaço cenográfico, sob a luz dos candeeiros dos salões do Palácio Biester, numa nova e tão representativa exposição da Luka Art Gallery. Ao fechar o ano de exposições onde tantos artistas expressaram suas interpretações sobre o tempo, a curadora Ana Carolina Azevedo apresenta agora a mudança de estação e toda a saudade que ficou para trás mas, ao mesmo tempo, desafia aos visitantes a observarem as linhas de desenho do futuro, e a colorir as fotografias de nossas próprias percepções, não somente com as memórias e lembranças, mas com a projeção de todas as cores pessoais e perspectivas particulares.
Somos o resultado de todas as experiências que vivemos e do conhecimento que adquirimos, mas especialmente, das linhas com que desenhamos o amanhã e das cores que pintamos os nossos sonhos. Debaixo de um sobreiro português, a exposição propõe o olhar para o horizonte, sem tristezas, apenas saudade.
Ana Carolina Azevedo
Curadora