
Alkantara Festival | Terra Batida: Nosso Wayuri
Um programa de performances para celebrar a força agregadora e de reinvenção da arte indígena contemporânea.
Wayuri é um gesto de criar coletivo ou, tão só, de fazer algo em conjunto. A escolha de uma palavra em língua nheengatu — língua geral amazónica alimentada por bases do tupi, e proibida no séc. XVIII por Marquês de Pombal por ser uma ameaça à imposição da língua portuguesa — celebra a força agregadora e a reinvenção da arte indígena contemporânea. Uma alegria de fazer junto, de convocar a multitude de línguas, vozes, vidas e biomas indígenas que se encontram e resistem perante a sedimentação estrutural da violência colonial entre Portugal e o Brasil.
Nosso Wayuri reúne seis artistas no espaço da exposição retrospetiva do artista Denilson Baniwa, coletivizando-a. O programa de uma tarde resulta do processo de investigação convocado pela plataforma Terra Batida — uma plataforma orientada a desconstruir as noções de ecologia face ao entrelaçamento de visões e responsabilidades. A pesquisa, que durou cerca de dois anos, foi marcada por residências de encontro, investigação e criação com artistas indígenas em museus históricos e etnográficos em Lisboa e Coimbra, pensando estratégias de convivência, resposta e cuidado. Neste encontro performativo coletivo, Lilly Baniwa, Ellen Pirá Wassu & Ritó Natálio, Olinda Tupinambá & Ziel Karapotó e Juão Nÿn apresentam diferentes ações e gestos performativos que se tecem e se misturam entre si. O programa conta ainda com uma conversa e com uma instalação de vídeo que apresenta o processo de pesquisa deste grupo de artistas em acervos museológicos em Portugal.
As ações e gestos performativos de Nosso Wayuri acontecerão de forma contínua e entrelaçada e os seus inícios e fins nem sempre estarão claramente definidos — podem surgir em fragmentos, ser momentaneamente interrompidos ou misturar-se entre si, compondo uma performance partilhada e coletiva.
Cartas do Fogo
Ellen Pirá Wassu & Ritó Natálio
Entre a poesia e a performance, serão lidos excertos de Cartas do Fogo, colaboração curatorial e artística entre Ellen Pirá Wassu e Ritó Natálio, que convida a uma experiência de transmutação e digestão do encontro com estas coleções históricas. Um diálogo em torno de processos de desflorestação e das políticas institucionais de desaparecimento, conservação e memória, aplicados ao território brasileiro e português.
Diakhe
Lilly Baniwa
A perspetiva do caminho ou do retorno, como indica a palavra em baniwa diakhe, dá nome à performance da atriz Lilly Baniwa, do Alto Rio Negro. Nas palavras da artista, “entre águas e memórias, o diakhe chama: um percurso do retorno, onde territórios e saberes ancestrais se encontram para tecer cura e conexões, rompendo o silenciamento imposto aos objetos sagrados que carregam nossas histórias.”
Contra-feitiço a escrita maldita
Olinda Tupinambá & Ziel Karapotó
Uma ação que responde ao encontro presencial de Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó com a Carta de Pêro de Vaz de Caminha, de 1 de Maio de 1500, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Uma performance /ritual, por meio dos corpos-territórios de Olinda e Ziel, que estabelecerá uma contra-narrativa sobre a primeira escrita descritiva portuguesa sobre os povos indígenas do Brasil, a fim de desfazer as amarras do olhar colonizador sobre os povos originários. Passado, presente e futuro se entrelaçam, e a história, enfim, é questionada, recontada e reescrita com protagonismo e autoria indígena, por quem sempre a viveu.
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